quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

O amor é a cura



Crédito foto: Fox Film / Regency Enterprises

Em um mundo onde a medicina evoluiu muito, prometendo e cumprindo a cura para quase todos os males, e onde os grandes laboratórios farmacêuticos dominam e monopolizam as atenções quando o assunto é saúde, eis que surge um filme que discute este contexto nos Estados Unidos, o berço das grandes fármacos, mas que dá um viés amoroso a tudo isto. Graças ao diretor Edward Zwick, de Um Ato de Liberdade e Diamante de Sangue, um filme se antepõe como uma comédia romântica, um pouco dramático, sobre o mundo farmacêutico, da medicina e de algumas doenças ainda sem cura, como o Mal de Parkinson.
O filme é Amor e Outras Drogas (Love and Other Drugs), que traz uma excelente performance dos protagonistas Anne Hathaway (Maggie Murdock) e Jake Gyllenhaal (Jamie Randall), auxiliados por um elenco de apoio, aqueles coadjuvantes que todo mundo quer: Hank Azaria, Oliver Platt, Josh Gad, George Segal e Judy Greer. Baseado no livro “Hard Sell: The Evolution of a Viagra Salesman” (algo como “Dura Venda: a Evolução de um Vendedor de Viagra), de Jamie Reidy, o filme de Zwick consegue fazer o que o de David Fincher, A Rede Social, não conseguiu, adaptar um livro sem fidelidade demais, pois as subtramas passam a ser mais interessantes do que a própria história do vendedor de Viagra.
A história se inicia com a tradicional apresentação do personagem principal, um conquistador incorrigível transando com a mulher do gerente das lojas de eletroeletrônicos. Depois, pula para a família onde se descobre que Jamie não seguiu a medicina, frustando a expectativa dos pais. Bom, história banal, clichê dos clichês. Mas aí que entra o roteiro de Charles Randolph, Marshal e a mão firme de Zwick para ditar o romance e azeitar a história.
Jamie tem a oportunidade de estagiar na Pfizer que até aquela época não figurava na lista das principais empresas, pois ainda não havia sido desenvolvido o seu melhor produto. O primeiro desafio do protagonista é conquistas secretárias e médicos para deixar amostras do seu produto, Zoloft, que tenciona concorrer com o medicamento da época: o Prozac. O seu tutor neste processo é o sempre divertido Oliver Pratt como Bruce.
Ao conquistar a confiança do primeiro médico, Hank Azaria com Dr. Stan Knight, Jamie encontra Maggie Murdock no consultório de Knight.
Ela sofre de Mal de Parkinson, estágio 1, e após olhar o seio de Maggie na consulta acaba se estabelecendo uma química interessante, recheada de diálogos curtos e intensos. Aliás, a química é bastante real entre os atores, como se percebe nas cenas de intimidade e de sexo, que Zwick deixou correr sem os cortes na linha da Sessão da Tarde ou de novela das sete.
Bom, daí a história ganha pimenta, algum romantismo e seriedade no trato com as doenças, como o Mal de Parkinson, como na cena de Chicago, em que Maggie descobre como vivem, agem e reagem as pessoas que tem o mesmo problema que ela.
Um outro momento interessante é quando Jamie descobre que a Pfizer está desenvolvendo o Viagra, num momento “isto nunca me aconteceu antes” e pede a Bruce para representar o medicamento, sob a alegação de que “quem é a pessoa mais indicada para representar o produto”. Outros momentos alternam hilariedade e drama, como quando o irmão nerd de Jamie, Josh Randall (o divertido Josh Gad), vai morar com ele e acaba colocando todas as suas projeções e frustrações no irmão conquistador, pois ele não tem sucesso com as mulheres, apesar de mais rico e mais bem-sucedido.
O filme é divertido, cativante, com um bom elenco, diálogos inteligentes, mostra uma realidade do surgimento do Viagra numa era pós-antidepressivo e ainda aproveita para criticar o sistema Saúde-Medicina-Laboratórios, a partir da história de quem viveu esta realidade. Uma história que prova que acima dos medicamentos e dos médicos, parece que o amor é realmente a cura

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