Meu amigo, conhecido por seu trabalho acadêmico e pela excelente produção de contos, Cícero Galeno Lopes está desnudando o seu eu lírico ao lançando o livro de poesias Vidamundo, pela editora Movimento, nesta sexta-feira, dia 24, às 19h, na Palavraria Livraria & Café (Vasco
da Gama, 165, Bom Fim). A obra reúne 67 poemas resultantes de cinco anos
de trabalho, com apresentação de
Rafael Peruzzo Jardim, que fará a apresentação da obra. O professor José Édil de Lima Alves fará a
leitura de alguns poemas de Cícero. Grifo meu para Minha América Latina, um poema com ares épicos à maneira de Neruda. O livro terá lançamento ainda em Gramado
(2/9), em Caxias do Sul (12/10), Uruguaiana (cidade natal de Cícero) e
Vacaria (ainda sem datas definidas).
Cícero é
Licenciado (UCPel), Especialista (UFSM), Mestre (PUCRS) e Doutor (UFRGS)
em Letras. Como docente de ensino superior, dedica-se à literatura
brasileira, de modo especial à sul-riograndense. Como editor, planejou,
criou, editou e consolidou revistas acadêmico-científicas e cadernos
universitários, entre 1996 e 2004. É autor de ficção (contos) em obras
próprias (Conto e Ponto, A Curva da Estrada e A Viagem) e coletivas.
Ensaísta em periódicos especializados e em livros coletivos e próprios,
Cícero conta em entrevista o porquê do
lançamento da primeira obra em poesia, analisa a poesia brasileira atual e trata de outros assuntos.
Pergunta - O conto e a produção acadêmica sempre
permearam a tua obra. Por que a opção por publicar a tua poesia neste
ano?
Resposta - A produção acadêmica tem
trajetória própria. Tem também vida mais efêmera, embora trabalhos
escritos às vezes permaneçam por algum tempo, às vezes também com
repercussão boa. A compensação é a pequena contribuição que se possa
fazer ao conhecimento. Ficam no âmbito da comunicação. Contos e poemas
são formas, ou pretendem ser, de expressão, ou seja, esforço em busca da
arte. O conto se presta ao trabalho cuidadoso de construção de
narrador, personagens, discurso, mais que qualquer outra forma da prosa.
Poemas tendem a ser superação disso. Poema exige construção temática,
trabalho elaborativo ótico e fônico, que inclui sonorizações – ritmos,
rimas, sugestividades. A poesia se aproxima bastante da música e, como
tal, pode ser menos objetiva e mais sugestiva.
P - Todos os teus poemas foram para "Vidamundo" ou houve uma seleção criteriosa para chegar nestes 67?
R - "Vidamundo"
é uma seleção de textos de mais de cinco anos. Professor trabalha
muito, normalmente demais. Foi meu caso. Agora pude selecionar, reunir
poemas, submetê-los ao editor. Meu editor foi professor de literatura; é
excelente leitor. Ele me ajuda na seleção; da minha seleção pra
Vidamundo, ele sugeriu supressões. Um poema suprimido por mim foi
mantido por ele, e eu concordei.
P - Há algum poema de tua preferência em "Vidamundo"?
R - Há
mais de um. Os amigo, todos ótimos leitores, que os leram antes da
edição também têm preferências e geralmente coincidimos. O soneto "A
gaiola", por exemplo, chegou à presidente da Associação Internacional de
Escritores e Artistas (IWA) por meio de um jornal editado no interior
do RS. Ela o traduziu ao espanhol e o enviou aos associados espanhóis e
hispano-americanos. Outro soneto, "Cravo-do-mato", é de preferência de
alguns amigos, um dos quais ótimo poeta, e é um dos que considero
interessantes. "As andorinhas", "Conversa com a mãe morta", "Vulto e
sombra" são outros possíveis de citar. "Nazarena" foi escolhido e
musicado por outro amigo...
P - Qual a tua métrica preferida ou a preferência por gênero poético?
R - A
métrica deve ser escolhida pela temática e pelo andamento do poema.
Bons poetas, como Gonçalves Dias e Casto Alves, ensinam isso praticando.
A métrica organiza o ritmo. O ritmo bem trabalhado pode ser muito
sugestivo e imprimir significações e agradabilidades de outro modo
inatingíveis. Wamosy, entre outros muitos, também foi muito hábil nisso.
Quanto às espécies poéticas, creio que também devam ser fruto da
temática e dos possíveis recursos técnicos aplicáveis a cada caso.
P - Como é o teu eu lírico?
R -
Já ensinou Donaldo Schüler que a literatura é reflexão sobre o mundo. A
literatura, no entanto, tem marcas textuais próprias que a diferenciam
de outras formas. O título Vidamundo procura dizer um pouco isso:
pensamentos sobre a vida e o mundo (considerado o mundo que conhecemos),
com marcas do que chamamos de literatura. A injustiça é imperativo
impulso temático para pensarmos no mundo que ajudamos a construir. Para
tentarmos conseguir arte, é necessário muito trabalho e cuidado.
P
- Dois poemas em espanhol e um que remete a América Latina, trabalhando
em alinhamento com nomes como Pablo Neruda ou Mario Benedetti. Fale-nos
sobre a tua facilidade de construção de versos em espanhol.
R - Os
poemas escritos em espanhol foram possíveis, porque, ao elaborá-los,
percebi que seriam mais expressivos assim do que em português, mas são
apenas três. Quanto ao "Minha América Latina", é produto da minha
indignação ao pensar sobre a colonização e as mentiras neocoloniais que
nos impingem e sobre as quais calamos.
P - O que diferencia a boa da má poesia?
R -
Ao construir versos e depois montá-los em poemas, o elaborador deve
pensar nas possíveis formas de recepção por parte dos leitores. Esse é o
momento em que se criam os leitores virtuais, ou seja, os leitores a
quem se imagina que se escreve. Sob esse ponto de vista, não há uma
poesia boa e outra poesia má. Há leitores em vários estratos. Parece
claro, porém, que os versos derramados, sem trabalho cuidadoso, acabam
sendo lidos por poucos. Parece haver um nível mínimo de domínio
teórico-técnico pra confecção de poemas comunicativos, sonoros,
sugestivos, expressivos.
Este blog se propõe a ser uma conversa com internautas, com textos, crônicas sobre o cotidiano e informações sobre o mundo da arte.
sexta-feira, 24 de agosto de 2012
domingo, 17 de junho de 2012
CARMENÊUTICA (em redondilha maior)
Um poema em redondilha maior (versos de sete sílabas ou heptassílabos) criados para a disciplina de Poesia do curso de Especialização em Literatura Brasileira - Escrita Criativa da Ufrgs.
E este
verbo se fez CARMEN
Habituou-se
entre nós
Das
profundezas, foi pélvico
Me
encheu de fluídos ateus
Carmen,
com uma carne ácida
Cheia
de cartesianismo
Translúcida
e imprópria
Mesmo
aos menores desejos
Uva
maturada aos pés
Vinho
tácito e jocoso
Submissa
e intrometida
Ávida,
mas inconstante
Não sei
definir o carmim
Que adorna
a boca de Carmen
Que se
armem os meus gritos
Que se
espantem os arbítrios
Exaspero
cedo demais
Separações
mais me eriçam
Eu
amei Carmen e este amor
Parece
que nunca SAURA
Como a
cigana daquela ópera
Sevilhana,
doce e sedutora
Aquela
porto-alegrense
Me
tirou a raiz dos pés
Quem
disse que cedi um milímetro
Não há
nenhum MERIMEÉrito
Nesta
minha teimosia trôpega
Sufraguei
em vale de lágrimas
Vaguei,
tateando entre sombras
Sempre
em busca de outra musa
Carmentira,
Carmenarquia
Sangue
andaluz em terra açoriana
Morreu
a música de BIZET
Acabou
a esperança bizantina
Sofri
calado, amei injuriado
Nunca
fui e nunca serei
Hodiernamente,
POEtizo
O
drama operístico, sem sal
meio
sem sono, sem sonetos
Vivo
explanando em quadrinhas
Reminiscente,
em esquinas
Um
bardo inconsciente e cego
Os
amores vêm e vão, espiral
Espero
que voltem um dia
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