terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Além de Clint Eastwood


Clint Eastwood conseguiu ir além de todas as expectativas que se tinha sobre ele quando ainda era ator e empunhava a sua Magnum 44 como Dirty Harry. Desde que dirigiu o oscarizado western dramático "Os Imperdoáveis", de 1992, o ator e diretor vem surpreendendo com visões bastante líricas e claras sobre o fazer cinematográfico. Após filmes como "Gran Torino", "A Troca" e "Invictus", Eastwood traz às telas uma obra que investiga a mortalidade a partir de experiência de quase morte e conexões com a outra vida.
Se fosse um filme como "Nosso Lar" ou outros blockbusters inspirado na doutrina, logo se duvidaria da eficiência e da seriedade da obra, mas este "Além da Vida" ("Hereafter") de Eastwood até que é bem crível ao contar três histórias desconexas entre si, aparentemente, mas que vão ter uma conexão futura. A repórter investigativa e âncora de tevê francesa Marie Lelay (Cécile de France) sobrevive a um tsunami, mas tem uma experiência de quase morte e enxerga a luz e movimentos nos minutos em que está passando para o outro lado. O médium George Lonegan (Matt Damon) não quer utilizar o seu dom da vidência e da conexão com os mortos e por isso trabalha como operário no Porto de San Francisco. O garoto londrino Marcus (George MacLaren) perde o irmão-gêmeo Jason (Frankie MacLaren) e não consegue viver sem ele.
As três histórias acabam se cruzando e a magia do que está além da vida acaba criando tênues laços entre estes protagonistas. Eastwood consegue o alto dom de lirismo e de factualidade ao mostrar a virada na vida da jornalista, que acaba investigando o que há além da vida para um livro, a mudança na vida do vidente, que foge daqueles que querem se comunicar com os mortos, mas vai atrás do sonho de conhecer a Londres de Charles Dickens, e do menino que persiste na busca por um contato com o irmão-gêmeo e por ajudar a sua mãe, que está numa clínica de recuperação.
Mais uma vez, uma obra de grande sensibilidade de Clint Eastwood, que está pensando além, e tentanto tratar de um tema tabu no cinema de arte mundial. Acho que conseguiu dar a seriedade necessária ao filme e lirismo e a estética sempre peculiar de um diretor que já virou há muito sinônimo de autoralidade no cinema americano.

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