sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Cícero Galeno desnuda seu eu lírico

Meu amigo, conhecido por seu trabalho acadêmico e pela excelente produção de contos, Cícero Galeno Lopes está desnudando o seu eu lírico ao lançando o livro de poesias Vidamundo, pela editora Movimento, nesta sexta-feira, dia 24, às 19h, na Palavraria Livraria & Café (Vasco da Gama, 165, Bom Fim). A obra reúne 67 poemas resultantes de cinco anos de trabalho, com apresentação de Rafael Peruzzo Jardim, que fará a apresentação da obra. O professor José Édil de Lima Alves fará a leitura de alguns poemas de Cícero. Grifo meu para Minha América Latina, um poema com ares épicos à maneira de Neruda. O livro terá lançamento ainda em Gramado (2/9), em Caxias do Sul (12/10), Uruguaiana (cidade natal de Cícero) e Vacaria (ainda sem datas definidas).

Cícero é Licenciado (UCPel), Especialista (UFSM), Mestre (PUCRS) e Doutor (UFRGS) em Letras. Como docente de ensino superior, dedica-se à literatura brasileira, de modo especial à sul-riograndense. Como editor, planejou, criou, editou e consolidou revistas acadêmico-científicas e cadernos universitários, entre 1996 e 2004. É autor de ficção (contos) em obras próprias (Conto e Ponto, A Curva da Estrada e A Viagem) e coletivas. Ensaísta em periódicos especializados e em livros coletivos e próprios, Cícero conta em entrevista o porquê do lançamento da primeira obra em poesia, analisa a poesia brasileira atual e trata de outros assuntos.

Pergunta  - O conto e a produção acadêmica sempre permearam a tua obra. Por que a opção por publicar a tua poesia neste ano?
Resposta - A produção acadêmica tem trajetória própria. Tem também vida mais efêmera, embora trabalhos escritos às vezes permaneçam por algum tempo, às vezes também com repercussão boa. A compensação é a pequena contribuição que se possa fazer ao conhecimento. Ficam no âmbito da comunicação. Contos e poemas são formas, ou pretendem ser, de expressão, ou seja, esforço em busca da arte. O conto se presta ao trabalho cuidadoso de construção de narrador, personagens, discurso, mais que qualquer outra forma da prosa. Poemas tendem a ser superação disso. Poema exige construção temática, trabalho elaborativo ótico e fônico, que inclui sonorizações – ritmos, rimas, sugestividades. A poesia se aproxima bastante da música e, como tal, pode ser menos objetiva e mais sugestiva.

P - Todos os teus poemas foram para "Vidamundo" ou houve uma seleção criteriosa para chegar nestes 67?
R - "
Vidamundo" é uma seleção de textos de mais de cinco anos. Professor trabalha muito, normalmente demais. Foi meu caso. Agora pude selecionar, reunir poemas, submetê-los ao editor. Meu editor foi professor de literatura; é excelente leitor. Ele me ajuda na seleção; da minha seleção pra Vidamundo, ele sugeriu supressões. Um poema suprimido por mim foi mantido por ele, e eu concordei.

P - Há algum poema de tua preferência em "Vidamundo"?
R -
Há mais de um. Os amigo, todos ótimos leitores, que os leram antes da edição também têm preferências e geralmente coincidimos. O soneto "A gaiola", por exemplo, chegou à presidente da Associação Internacional de Escritores e Artistas (IWA) por meio de um jornal editado no interior do RS. Ela o traduziu ao espanhol e o enviou aos associados espanhóis e hispano-americanos. Outro soneto, "Cravo-do-mato", é de preferência de alguns amigos, um dos quais ótimo poeta, e é um dos que considero interessantes. "As andorinhas", "Conversa com a mãe morta", "Vulto e sombra" são outros possíveis de citar. "Nazarena" foi escolhido e musicado por outro amigo...

P - Qual a tua métrica preferida ou a preferência por gênero poético?
R -
A métrica deve ser escolhida pela temática e pelo andamento do poema. Bons poetas, como Gonçalves Dias e Casto Alves, ensinam isso praticando. A métrica organiza o ritmo. O ritmo bem trabalhado pode ser muito sugestivo e imprimir significações e agradabilidades de outro modo inatingíveis. Wamosy, entre outros muitos, também foi muito hábil nisso. Quanto às espécies poéticas, creio que também devam ser fruto da temática e dos possíveis recursos técnicos aplicáveis a cada caso.

P - Como é o teu eu lírico?
R -
Já ensinou Donaldo Schüler que a literatura é reflexão sobre o mundo. A literatura, no entanto, tem marcas textuais próprias que a diferenciam de outras formas. O título Vidamundo procura dizer um pouco isso: pensamentos sobre a vida e o mundo (considerado o mundo que conhecemos), com marcas do que chamamos de literatura. A injustiça é imperativo impulso temático para pensarmos no mundo que ajudamos a construir. Para tentarmos conseguir arte, é necessário muito trabalho e cuidado.

P - Dois poemas em espanhol e um que remete a América Latina, trabalhando em alinhamento com nomes como Pablo Neruda ou Mario Benedetti. Fale-nos sobre a tua facilidade de construção de versos em espanhol.
R -
Os poemas escritos em espanhol foram possíveis, porque, ao elaborá-los, percebi que seriam mais expressivos assim do que em português, mas são apenas três. Quanto ao "Minha América Latina", é produto da minha indignação ao pensar sobre a colonização e as mentiras neocoloniais que nos impingem e sobre as quais calamos.

P - O que diferencia a boa da má poesia?
R -
Ao construir versos e depois montá-los em poemas, o elaborador deve pensar nas possíveis formas de recepção por parte dos leitores. Esse é o momento em que se criam os leitores virtuais, ou seja, os leitores a quem se imagina que se escreve. Sob esse ponto de vista, não há uma poesia boa e outra poesia má. Há leitores em vários estratos. Parece claro, porém, que os versos derramados, sem trabalho cuidadoso, acabam sendo lidos por poucos. Parece haver um nível mínimo de domínio teórico-técnico pra confecção de poemas comunicativos, sonoros, sugestivos, expressivos.

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